Moacir do Amaral: um visionário apaixonado por Cosmópolis


Dr. Moacir foi o primeiro prefeito e responsável pela emancipação do município 

 

Nome de uma das ruas com maior fluxo na região central, via de acesso aos bairros, endereço de conhecidos espaços públicos, importantes prédios religiosos e comerciais.
Em placas de ágata e acrílico, o nome Dr. Moacir do Amaral é diariamente lembrando por motoristas e pedestres, mas sua importância na história do município é pouco conhecida por muitos cosmopolenses.
Seu nome também é destaque na história de vida de inúmeras gerações que estudaram na popular ‘Escola do Comércio’, que na década de 1970 com a mudança da ‘Escola do Rodrigo’, recebia o nome de Escola Municipal Dr. Moacir do Amaral.
Em 2010, seguindo um projeto de ampliação das instalações da Prefeitura, a escola foi transferida para uma casa alugada na Rua Sete de Setembro, bairro Bela Vista. No local, a escola funcionaria provisoriamente até a construção no terreno da extinta Tecelagem Urca, do Complexo Educacional Municipal. Previsto para 2012, como foi anunciado nas eleições e publicado em plano de governo, o complexo não saiu do papel.

Dentista, político e revolucionário
Mineiro do sul de Minas Gerais nasceu em Monte Sião, em 3 de Abril de 1901, estudando o primário e secundário em Pouso Alegre.
Mudou-se na adolescência para o Rio de Janeiro, onde foi diplomado como cirurgião dentista pela Faculdade de Farmácia e Odontologia do Rio de Janeiro, em Niterói.
Recém-formado, exerceu sua profissão em várias cidades, como Pouso Alegre, Serra Negra, Pedreira e Villa da Rocinha (atual Vinhedo).
Em Pedreira conheceu Irmã Ferrari, filha de tradicional família da cidade, casando-se em 1921. Na ‘cidade da porcelana’, Dr. Moacir começou família e sua vida pública, sendo nomeado em 1922, Juiz de Paz da cidade de Pedreira. Foi um dos percursores do Partido Republicano Paulista no município, sendo líder político do PRP no auge da Revolução Constitucionalista de 1932. Pedreira foi uma das cidades mais importantes de resistência e lutas do movimento contra o ditador Getúlio Vargas.
Dr. Moacir conheceu Cosmópolis na década de 1920, quando familiares mudaram-se para pequena vila. Nas viagens à passeio, o jovem Moacir conhecia uma Cosmópolis considerada, na época, como a Nova Campinas, chamando sua atenção pelo constante progresso que atraia migrantes e imigrantes.
Com o fim da revolução de 1932, surgiam as perseguições políticas e embargos feito pela ditadura Vargas em Pedreira, mudando os planos do jovem empreendedor.

A mudança para Cosmópolis
Em 1933, Dr. Moacir fixava residência em Cosmópolis, inaugurando na Rua Baronesa Geraldo de Rezende, próximo à antiga Sede Social do Clube Cosmopolitano, o seu moderno consultório de odontologia. O “Gabinete Electrico Cirúrgico Dentário Moacyr Amaral”, era destaque no jornal semanário local “O Apito”, pelas modernas instalações e, principalmente, pelos aparelhos dentários que utilizavam energia elétrica, algo só visto em Campinas. Coisa rara em tempos que os dentes eram retirados até mesmo sem anestesia e com uso de seculares aparelhos de extração.
O consultório atraía clientes de toda região, principalmente das vilas de Arthur Nogueira e José Paulino, a qualidade das próteses dentarias e a facilidade no pagamento era sua referência nos serviços.
Em 1934, o seu empreendedorismo e popularidade proporcionou a nomeação pela Câmara de Campinas ao cargo de subprefeito. O cargo não possuía remuneração, era basicamente uma nomeação de confiança para representar a população do distrito em Campinas.
Nesse período os contrastes do descaso da prefeitura de Campinas foram ficando mais evidentes ao jovem subprefeito. O distrito que contribuía com altas somas de impostos vindos da indústria açucareira, tecelagens e agricultura, não possuía ruas asfaltadas, não existia saneamento básico, um poço de água era coisa de luxo nas casas.
Ali nascia a ideia de emancipar Cosmópolis de Campinas, transformando o distrito em município. Era criada a junta emancipalista, um grupo de moradores formado por comerciantes, empresários e agricultores.

Primeiro prefeito de Cosmópolis
Os trabalhos de emancipação política e administrativa de Cosmópolis começavam a ser realidade com o apoio de juristas como Dr. Rodrigo Octávio Langard de Menezes, o deputado Federal Domingos Vergal e o presidente Getúlio Vargas.
Na ocasião, o apoio de Vargas à emancipação de Cosmópolis mostrava-se como um ato de impor seu poder perante Campinas.
Depois de anos de batalhas jurídicas contra a prefeitura e a Câmara Municipal de Campinas, o grupo emancipalista conseguiu tornar o sonho realidade.
Em 30 de novembro, Cosmópolis era oficializada como município. O grupo apresentou o nome de Moacir do Amaral ao Estado, que nomeou Dr. Moacir como o primeiro prefeito de Cosmópolis e Caetano Achiles Avancine como vice-prefeito.

O prefeito da Vila
Empossado em 1º de janeiro de 1945 como Prefeito de Cosmópolis, Dr. Moacir do Amaral exerceu o mandato durante oito meses. O prazo legal seria de dois anos, tempo estabelecido para a preparação da nova prefeitura e das primeiras eleições, mas Moacir foi exonerado em agosto de 1945. Assumia o cargo Gentil Bicudo, então diretor da Usina Ester, eleito pela Câmara dos Vereadores.
Neste curto período enfrentou diversas dificuldades, não apenas por ser responsável pela criação do novo município, mas principalmente por contrariar os interesses de alguns empresários da época, sendo este um dos motivos da sua exoneração. Sua breve gestão como prefeito foi marcada por muitas mudanças na gestão política e poucas realizações administrativas no âmbito de obras. A cidade necessitava, mas a prefeitura ainda não possuía receita financeira.
O patrimônio da prefeitura na sua gestão era resumido pelo "pequeno prédio do Paço, construído no início do século 20, uma máquina de escrever e poucos móveis’’, como descreve o jornal “O Município”, inaugurado por Moacir do Amaral, em 1945.
Sua gestão foi marcada por medidas visionárias, como a criação de uma parceria entre proprietários e a prefeitura para a pavimentação das ruas, o emplacamento de todos os meios de transportes, a medida abrangia os poucos veículos motorizados existentes no novo município, como carros e tratores, as bicicletas, charretes, carroças e até carros de bois.
A norma não agradou a indústria açucareira local, a qual possuía a maior frota existente na cidade. Outro fato que desagradou os usineiros foi a cobrança de impostos sobre as terras e serviços. Moacir foi exonerado sem oficializar as medidas como lei.

Moacir na Câmara
Com a crescente popularidade do semanário “O Município”, Dr. Moacir concorreu à vereança, em 1947, nas primeiras eleições municipais de Cosmópolis.
Eleito como o vereador mais votado, assumiu a Presidência da Câmara dos Vereadores. Na sua gestão como vereador surgia as bancadas da Vila, formada por moradores da região central, e a bancada da cana, formada por funcionários da indústria açucareira. O prefeito na época era João Hermann, diretor e pessoa de confiança dos proprietários da usina local.
Sempre contrário aos interesses que beneficiavam apenas o setor da cana, excluindo a Vila (minoria na Câmara), Dr. Moacir não terminou o mandato, entregando o cargo em novembro de 1949. Mudou-se para São Paulo em 1950, dedicando-se integralmente à profissão de dentista.
Personagem de inúmeras histórias, Dr. Moacir foi o pioneiro na Prefeitura de Cosmópolis, na modernização da odontologia, nos setores de mídia da cidade e no cinema.
Moacir faleceu no bairro do Belém, em São Paulo, em 8 de março de 1958, aos 57 anos.

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