60 anos de histórias e memórias


Agostinho e Albertina comemoram 60 anos de casados no mês de aniversário de Cosmópolis

 

Ela, nascida em Cosmópolis, em 1934, da família do Baron, na saudosa colônia Pinheiro, nos territórios da Usina Ester. Ele, nascido em Santo Antônio do Jardim, em 1932, em uma cidadezinha com poucos habitantes, na divisa com Minas Gerais.
De diferentes lugares, a história de Albertina Baron Genaro e Agostinho Genaro se cruzou entre as colônias da Fazenda Usina Ester há mais de 60 anos. Mal podiam saber que em novembro de 2016 estariam comemorando suas bodas de diamantes com seus quatro filhos, duas noras, dois genros, oito netos, três bisnetos e sete novos membros da família (maridos, esposas, namorados dos netos).
Ele, um jovem recém-chegado da Fazenda Cresciumal de Leme. Ela, filha de colono, logo ficou sabendo sobre “os moços que chegaram de Leme na Usina. Mais de 30 famílias vieram de Leme para cá, e a notícia logo se espalhou entre as moças”, diz Albertina.

Como se conheceram
O ponto do primeiro encontro ficou guardado na memória do casal: um parque de diversões. “Era difícil naquela época ter alguma coisa na cidade. Quando tinha algum parque ou circo a gente vinha para a ‘Vila’”, conta Albertina. “O parque ficava ali onde hoje é o mercado do Davinha”, completa.
“No dia em que nos conhecemos, nós tínhamos ido ao parque e, depois, para voltar para a colônia, eu me ofereci para acompanhar a Albertina”, relembra Agostinho. “O Seu Ernesto (pai de Albertina) estava indo mais na nossa frente e na hora de passar pela porteira da Usina, ele abriu, esperou a gente passar, eu dei boa noite pra ele e nós seguimos. Eu achei que ele fosse ficar bravo, mas eu estava com as melhores intenções com a Albertina”, comenta, em meio aos risos, Agostinho.
Até Albertina achou que o pai ficaria bravo, já que ela era a predileta entre os seis irmãos, segundo seu filho mais novo, Sidnei Genaro. “Mas é verdade viu, ele falava que eu era o braço direito dele”, confirma a senhora. A partir dali, Agostinho foi pedir a permissão dos pais de Albertina para iniciar o namoro. Mas o namoro de antigamente era bem diferente dos padrões atuais. “A gente só se via uma vez na semana e olha lá. A gente dava graças a Deus quando tinha um feriado pra se ver”, fala Albertina. “E não era esses namoros de ficar pra rua não, a gente namorava em casa e só saía às vezes quando tinha um baile na Usina, vinha para a Vila assistir um filme de faroeste no Cine Avenida”, acrescenta Agostinho.

Casamento
O casal namorou durante dois anos e então se casou na primeira Igreja Matriz de Santa Gertrudes. “Em 1956, quando nós nos casamos, ainda era a igreja velha, mas a outra já estava sendo construída ao redor da pequena, só depois que ela foi destruída”, diz Agostinho. Quem realizou a cerimônia de casamento foi o Padre Germano, conhecido pela fama de atrasar os horários das missas. “Tinha vez que a gente chegava pra missa 7h30 e o padre só ia aparecer 8h. Aí se a gente quisesse ver a missa, tinha que ficar esperando ele chegar”, conta, em meio aos risos, Albertina.
“Quando eu comprei a aliança para o nosso casamento, a minha tinha ficado certinha, mas da ‘Bertina’ tinha ficado um pouquinho apertada. Aí, no dia do casamento, na hora de colocar a aliança no dedo dela, ‘tava’ difícil, e eu demorei um pouco. O padre tirou minha mão e terminou de colocar a aliança dela, acha que pode?”, recorda-se da engraçada memória, Agostinho.

A vida de casados
Após o casamento, Albertina mudou-se para a colônia Botafogo, onde Agostinho já morava há alguns anos. Depois de nascerem todos os quatro filhos (José Benedito, Maria Elizabeth, Eunice e Sidnei), o casal mudou-se novamente para a colônia do Pinheiro. Na Usina, Agostinho trabalhou na indústria de açúcar e de álcool. Já Albertina cortou cana, trabalhou no empacotamento de açúcar, conhecida como “as meninas do açúcar”, onde só trabalhavam mulheres. Depois, Albertina deu uma pausa para cuidar dos filhos, mas voltou à ativa para ajudar a família, trabalhando na creche da Usina, onde se aposentou.
“Nas colônias era uma alegria. Os filhos tinham um quintal enorme para brincar. O Bululum (José Benedito) sempre foi arteiro, ele subia em cima da casa e os outros filhos ficavam debaixo jogando pedra nele, era só risada”, conta Agostinho. “Os vizinhos tinham que ajudar a gente a olhar as crianças, porque a gente trabalhava e eles ficavam em casa”, acrescenta Albertina.
A reunião da família, mesmo quando ainda só tinha seis integrantes já era tradição. “Eu sempre gostei de ter a família reunida, principalmente nas refeições. Então sentava o ‘Gustinho’ perto da tuia (armário para guardar mantimentos) ouvindo Tonico e Tinoco no rádio, eu do lado, o Zezinho (José Benedito), a Beth, a Nice e o Gelão (Sidnei). O Bululum ficava de frente com a Beth e a Nice e ficava chutando elas, e elas reclamavam: ‘Olha lá mãe, o Bululum chutando a gente’”, conta Albertina.
Mesmo sendo espoletas, as crianças respeitavam os mais velhos. “Eu lembro que a pior coisa que alguém poderia me falar era: ‘Ô Sidnei, eu vou contar tudo isso que você está fazendo para o seu pai’. Nossa! Eu até gelava porque sabia que ia ter castigo”, comenta Sidnei.
A união também permanecia nos passeios que a família gostava de fazer. “A gente também gostava de ir ao circo. Às vezes, no meio da semana a gente pegava as crianças e vinha lá da Usina até a Vila só pra ir ao circo”, recorda-se Albertina. “Quando tinha filme bom passando no Cine Avenida, a gente vinha da colônia, passava no cinema e deixava um lenço ou uma blusa pra guardar o lugar. Aí a gente ia passear, ia no parque, no circo e quando dava a hora da cessão, a gente voltava lá e o lugar estava guardado com as nossas coisas em cima”, relembra Agostinho.

Cosmópolis ontem
Agostinho e Albertina sentem saudades da Cosmópolis antiga, em que podiam confiar nas pessoas. “Aquele tempo a vida tinha mais motivação, tinha mais alegria, mais prazer de viver, não era igual hoje que é só violência e maldade”, diz Agostinho. “Coitado do brasileiro de hoje, vive preocupado, porque sai de casa e não sabe se volta vivo”, acrescenta.
“Naquele tempo você vinha na cidade e era todo mundo conhecido. A vida, em partes, agora melhorou sim, é mais confortável. Mas a respeito de segurança, antes era melhor. A cidade tinha só dois policiais, o Toninho e o Cabo Cruz, eles andavam pra rua, no meio da turma, parava conversar. Não tinha muito o que fazer”, comenta Agostinho. “Era um povo civilizado, cidade pequena, com pouca gente, por isso era assim”, diz Albertina. “Era muito bom viver na Usina. Até hoje meus filhos têm saudade de quando chovia, o ‘Gusto’ fazia uma caipirinha e dava um pouquinho pra cada um na colher”, completa a senhora.
Educar os filhos também era mais fácil antigamente, segundo o casal. “A educação que nós demos pra eles valeu até hoje, porque graças a Deus criamos quatro filhos que nunca deram um desgosto, uma tristeza para nós, sempre andaram no caminho certo, são trabalhadores e respeitam as pessoas”, diz Albertina. “Nós podemos agradecer a Deus, porque nós criamos uma família”, complementa Agostinho.
“Ter uma família, todo mundo pode, mas eu quero ver manter a família de pé. E com a graça de Deus nós somos unidos. A gente só tem que agradecer a Deus tudo que a gente tem, porque o que nós estamos precisando, Ele sabe. Ele dá sem a gente pedir”, diz Albertina. Um dos presentes para o casal foi o nascimento do terceiro bisneto, Daniel, no dia do aniversário de 60 anos de casamento, 24 de novembro.
Em 72 anos de Cosmópolis, a maior saudade do casal é o sossego da antiga Vila. “Dá saudade do tempo antigo”, diz Agostinho. “A gente não tinha medo de nada, agora, se for para eu sair sozinha de dia na rua, eu tenho medo”, acrescenta Albertina. “Cosmópolis era uma família, todo mundo se conhecia. Os comerciantes vendiam fiado, tinha caderneta com o nome das pessoas, quanto gastou e quando saía o pagamento, a gente ia lá pagar. Um confiava no outro”, fala Albertina. “Dá saudade da simplicidade daquele tempo”, recorda-se Agostinho.

A experiência dos 60 anos de casados
No dia 24 de novembro, Agostinho e Albertina completaram os 60 anos de casados. As bodas de diamante também foram comemoradas com uma missa na Igreja Matriz Santa Gertrudes, mesmo lugar em que se casaram e completaram todas as bodas as decorrer dos anos. Com tantos anos de experiência matrimonial, o casal deixou o segredo de manter uma longa vida em casal: “Amor e amor, se não tiver amor não vai. Você precisa casar por amor”, acredita Agostinho. “Amor, muita fé em Deus e confiança um no outro. E não pode entrar mentira no meio do casal, tudo que você fizer seja sincero com seu parceiro. Aí o casal vai para frente”, finaliza Albertina.

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