Curador do Festival de Paulínia Rubens Ewald Filho comenta programação deste ano

Paulínia Film Festival busca voltar a ocupar seu devido local de destaque nos circuitos brasileiro e internacional

Em entrevista ao portal G1, o crítico de cinema Rubens Ewald Filho falou sobre a retomada do Festival de Paulínia e do próprio polo de cinema da cidade. Curador da mostra, ele chegou a tecer críticas à administração anterior, que abandonou o projeto idealizado pelo ex-prefeito Edson Moura e comentou também sobre os filmes que compõem a programação do evento este ano, que acontece entre os dias 22 e 27 deste mês.

Ewald Filho lembrou que o polo cinematográfico do município foi idealizado para transformar Paulínia na “Hollywood Brasileira”, mas que sofreu um duro golpe em 2012, quando o então prefeito José Pavan Junior (PSB) cancelou o evento. “O ex-prefeito e sua senhora, fico sabendo há pouco, fizeram tudo para destruir o que havia sido construído antes, inclusive a escola, o estúdio, o próprio teatro. Eles são o retrato de um tipo de brasileiro que não poderia existir, muito menos em cargos públicos”, afirma o crítico de cinema. 

No fim do ano passado, ocorreu uma edição mais enxuta, para resgatar o festival. E agora o Paulínia Film Festival busca voltar a ocupar seu devido local de destaque nos circuitos brasileiro e internacional.

Para Rubens, a safra de longas é positiva e o provável filme do ano no país é “Infância”, do veterano cineasta carioca Domingos de Oliveira e estrelado por Fernanda Montenegro. 

Na entrevista, o crítico e curador questionou os curtas, comentou o momento do cinema no Brasil e adiantou alguns filmes internacionais que podem estar na programação. Confira:
 
O festival este ano teve um total de 263 títulos brasileiros inscritos, sendo que nove longas e oito curtas foram selecionados. Como foi o processo de avaliação para chegar a esta seleção final? O que você levou mais em consideração para selecioná-los? O tema, roteiro, direção, atuação?

Este ano o festival vem sofrendo com problemas políticos, que ainda não estão 100% resolvidos. Não me cabe relatá-los por que não é minha área. Mas basicamente nos tem atrasado e impedido muita coisa, muitos projetos. Esta nova edição teria que ser internacional, a pedido do Prefeito, mas não havia data por causa óbvia da Copa e da eleição – quase todos os festivais atrasaram para o segundo semestre, que está lotado. E assim por diante. Os curtas eram muito irregulares. Senti falta de novidades e maior criatividade. Há muitos filmes com temática gay, algo explicável pelo momento histórico. Alguns desses curtas são bons. Outros são influenciados por serial killers e de moral duvidosa. Será que minha impressão está correta? Mas hoje, entre fazer curtas e longas, pelo formato digital, pode-se optar pelo segundo formato, pois o custo já não é tão diferente. Afinal, ao se fazer um longa, existe a esperança de exibi-lo numa sala. Isso explica por que hoje são 200 filmes por ano e muitos sem espaço para exibição. Fora as comédias, que vem fracassando. 
 
Você considera que, após o breve hiato sem o festival, o evento retomou sua força?

Serão apenas seis dias por causa de diversos problemas. Ou seja: não, ainda não vai ser como nós desejávamos. Falta bastante. Estamos fazendo o melhor que podemos nas circunstâncias. Mas acredito que será bacana e divertido, ao menos. Os longas, porém, são muito bons.
 
Qual o peso da responsabilidade em ser o único curador do festival?

Sou o único, mas você que me conhece sabe que divido tudo com os superiores: no caso, o diretor do festival, Ivan Melo, e sua secretária, Mônica. Neste caso, nos longas, fiz uma lista dos melhores, que tinha uns 12 finalistas, digamos assim. Eles que tomaram as decisões finais. Por exemplo: dar destaque aos inéditos. Como o festival está mais curto, faltou espaço para todos os que gostaríamos de colocar. O padrão é bem alto. Um deles, o da cantora (o documentário “Cássia”), talvez não seja concluído há tempo e, no caso, eles já têm os possíveis substitutos no relatório que entreguei. Mas você tem razão. Sozinho é muito difícil e não sou e nem quero ser dono da razão. Tudo foi discutido em grupo, com os parceiros. Que trabalharam que nem loucos resolvendo a imensa burocracia de um festival. 
 
Qual a expectativa de público para este ano? Acredita que o festival poderá atrair muitos turistas e cinéfilos de outras cidades e estados? 

Não sou bom nessas coisas (risos). O ingresso é grátis, a sala é ótima e, os filmes, novos. Teremos também filmes franceses inéditos com as estrelas presentes, o maravilhoso filme do Domingos de Oliveira com a grande Fernanda. Acho que é o filme do ano. Vale a pena ir. Quem vai, costuma gostar muito. 
 
Com 70 longas inscritos, qual panorama você consegue traçar do cinema nacional atual? O país consegue produzir longas de qualidade em diferentes gêneros? 

Estou sentindo muito filme novo já mais desenvolto, com histórias melhor contadas. Gosto bastante do que se faz no Nordeste, em particular no Recife e, agora, começa também Belo Horizonte. Confesso que ficaram de fora alguns filmes interessantes que eu gostaria que o público tivesse acesso. E sem esquecer o delicioso e inusitado e muito polêmico “'Sinfonia da Necrópole'”, um filme musical diferente de tudo que se faz no mundo.
 
Pode adiantar alguma produção internacional que fará parte da programação?

Estava previsto, por exemplo, o filme com Depardieu, “Welcome to New York” (de Abel Ferrara), com o ele, Jacqueline Bisset, Drena De Niro, sobre escândalo internacional com o Mr. Devereaux. A nova biografia do Yves Saint Laurent parece que mais explícita. Enfim, seria tudo uma homenagem aos 25 anos da distribuidora Imovision!
 
Fique à vontade para deixar um recado ao público sobre o festival...

Estou empenhado no Festival muito também por causa do crime que cometeram contra ele e a cultura: o ex-prefeito e sua senhora, fico sabendo há pouco, fizeram tudo para destruir o que havia sido construído antes, inclusive a escola, o estúdio, o próprio teatro. Eles são o retrato de um tipo de brasileiro que não poderia existir, muito menos em cargos públicos. Felizmente começa o resgate, como sempre e como tudo que é de cultura com dificuldades e problemas e uma luta imensa. O edital está garantido e Paulínia continuará a produzir filmes brasileiros para o mundo.   

Filmes brasileiros na mostra

Longas-metragens - 'A Neblina', de Fernanda Machado (Documentário, SP); 'Aprendi a Jogar com Você', de Murilo Salles (Documentário, RJ); 'Boa Sorte', de Carolina Jabor (Ficção, RJ); 'Casa Grande', de Fellipe Barbosa (Ficção, RJ);
'Cássia', de Paulo H. Fontenelle (Documentário, RJ); 'Castanha', de David Pretto (Ficção, RS); 'Infância', de Domingos de Oliveira (Ficção, RJ); 'Sangue Azul', de Lírio Ferreira (Ficção, PE) e 'Sinfonia da Necrópole', de Juliana Rojas (Ficção, SP);

Curtas-metragens - 'De Bom Tamanho', de Alex Vidigal; ‘Edifício Tatuapé Mahal’, de Carolina Markowicz e Fernanda Salloum; 'Jessy', de Paula Lice, Rodrigo Luna e Ronei Jorge; '190', de Germano Pereira; 'O Clube', de Allan Ribeiro; 'O Bom Comportamento', de Eva Randolph; O Menino Que Sabia Voar, de Douglas Alves Ferreira e 'Recordação', de Marcelo Galvão.

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