Doutor da sanfona oferece nova vida aos instrumentos


 O luthier é um dos raros profissionais especializado no conserto e afinação de sanfonas

 

Acordeom, harmônica, concertina, gaita de fole, gaita ponto, pianada, pé de bode, ou sanfona como é conhecida no estado de São Paulo, são os vários nomes populares de um dos instrumentos musicais mais completos do mundo, uma verdadeira pequena orquestra de um só maestro, criada pelos chineses em 2.700 antes de Cristo.
Em Cosmópolis ainda resiste aos percalços da modernidade, um dos raros profissionais do Estado que conserta e afina este complexo instrumento, o luthier de acordeões José Vakula, ou como é conhecido pelos inúmeros clientes do país inteiro: o doutor das sanfonas.
Aos 66 anos de idade, José Vakula, a mais de 50 anos dedica sua vida às sanfonas, uma paixão já seguida pela quarta geração da família de imigrantes alemães, que chegaram ao município no fim do século 19. Requisitado por sanfoneiros de todo o Brasil, o habilidoso doutor das sanfonas, exerce sua profissão na velha casa da família, localizada na região central da Rua Monte Castelo, um antigo casarão com quase 70 anos de história. Neste casarão, José ainda criança ouviu os primeiros acordes do instrumento pelas mãos do pai Arthur Vakula. Na família desde os tempos do avô, o instrumento é figura de destaque na casa dos Vakulas, seguindo está tradição musical os irmãos José, Edgar e Arthur (falecido), tornaram-se figuras conhecidas regionalmente pelo talento instrumental.
“Desde criança ‘reinava’ nos teclados da sanfoninha do meu avô, mas somente com 14 anos comecei a estudar profundamente o instrumento. Meu primeiro professor em Cosmópolis foi o saudoso Silvino Torres. Aprendi a tocar em uma sanfona de oito baixos, com seis meses de estudos já tocava profissionalmente em casamentos, festas religiosas e bailinhos rurais nos sítios dos Caetanos e Galinaris. Como palco era usado à mesa de jantar da casa dos donos da festa. Subíamos na mesa eu e o Edgar com as sanfonas, e o Arthur acompanhando na clarineta. Ao som de valsas, mazurcas, xotes, rancheiras, o pessoal amanhecia no arrasta-pé. Tempos bons, fazíamos bailes na região inteira”, relembra Vakula.
José viu aflorar sua paixão pelo instrumento ouvindo o célebre Mario Zan, reconhecido mundialmente como o Rei da Sanfona.
Hobby que virou profissão
Os consertos e afinações surgiram na curiosidade do irmão Edgar Vakula, quando conheceu, em Campinas, a oficina de um antigo luthier. Nascia na visita um hobby, que, futuramente, seria a sua mais rentável profissão. “Aprendi na curiosidade do meu irmão, trabalhando os dois juntos. Começamos consertando as nossas sanfonas, tudo muito rudimentar, a cada dia criávamos uma nova técnica. Meu irmão parou, eu continuei, realizando o oficio nas horas vagas, consertando as sanfonas de amigos. Na cidade de Rio Claro, aperfeiçoei as técnicas com o mestre Ermelindo Stigliano e seu filho Sérgio, aprendendo o lado profissional dos consertos. Seu Ermelindo trabalhou durante anos na extinta fábrica de acordeons Rampazzo. Cada luthier tem suas próprias técnicas, criei grande parte das minhas sozinho, mas com eles aprendi muita coisa nova que, facilitou imensamente os meus trabalhos”.
O Doutor das sanfonas explica que a maioria das peças de reparos, como válvulas, teclas, materiais utilizados para a confecção de novos foles e instrumentos para o conserto, são importados da Itália. Com uma média de 300 a 400 peças, alterando por modelo, a manutenção da sanfona exige muita paciência e extremo cuidado.
Relíquia cosmopolense
Mostrando uma sanfona italiana de quase 120 anos, Vakula explica a qualidade e perfeição do instrumento, executando para nossa equipe algumas músicas regionais paulistas. O som realmente impressiona, principalmente pelo instrumento não estar totalmente reformado, a amplidão sonora é espantosa, assim como a clareza das notas musicais.
Construída toda em madeira, com ricos detalhes em marchetaria, a sanfona possui teclados e ornamentos confeccionados em marfim. A sanfona que está sendo restaurada, foi fabricada na Itália pela “Cooperativa L’armonica Stradella”, guardada como relíquia particular do mestre. O secular instrumento chegou a Cosmópolis por volta de 1898, com uma família de imigrantes italianos, segundo Vakula é o instrumento mais antigo existente no município.
“A maioria das sanfonas vindas à oficina são desta faixa de idade. Tenho sanfonas para conserto com 80 e 70 anos, assim como sanfonas com poucos anos de uso. É maravilhoso dar uma nova vida a um instrumento que está a gerações em uma família. Já peguei sanfona totalmente destruída pelo tempo, infestada por cupins e traças, enferrujada e sem nenhuma condição de uso. Com muita paciência, depois de muito trabalho, o resultado final superou até minhas expectativas”. Relata emocionado sobre a arte de trazer “vida” novamente a um instrumento.
Referência paulista
Na modesta oficina já passaram sanfonas vindas de vários estados, com destaque para instrumentos de ilustres músicos, sanfonas pertencentes as bandas de duplas como Milionário e José Rico, Cezar e Paulinho, Ataíde e Alexandre, orquestras sinfônicas, entre outros grandes artistas da atualidade. “A afinação é única, mas cada estado tem seu jeito de tocar o instrumento, gerando um desgaste diferente em cada sanfona. Nunca fiz propaganda, os clientes viram meus amigos, nesta amizade surgem as referências e o trabalho nunca para, graças a Deus”.
O antigo hobby, transformou-se em sua profissão, dedicando-se unicamente a mais de 10 anos ao conserto das sanfonas. Com a grande demanda de serviços, o Doutor da sanfona é auxiliado pela filha Alessandra Vakula, que acompanha o pai nos exaustivos serviços de desmontar, montar e fazer a limpeza das paletas, pequenas hastes de aço que compõem o maquinário na sanfona. Com muito cuidado usando máscara específica, luvas e uma micro lixadeira, as mais de 300 peças são lixadas e limpas pela “enfermeira” do Doutor das sanfonas.

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Comentários   

 
0 #3 axusivee 01-10-2020 13:11
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0 #2 nubouvon 01-10-2020 12:49
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0 #1 Aparecido alves 19-06-2020 13:23
Oi ocec é da oficina de acordeon?!,se você for passa o número da oficina e o endereço
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