As vozes da nota de falecimento da Igreja Matriz


 Paróquia Santa Gertrudes presta o serviço à comunidade há mais de 60 anos

 

“Nota de falecimento: faleceu hoje com 89 anos de idade, o (a) senhor (a)...”. Ao som do prefixo musical da Ave Maria de Schubert, um momento de respeito e reflexão paira no ar e é possível ouvir entre a roda de amigos: “Escuta lá! Alguém morreu!”. Mesmo no dia mais movimentado, o silêncio domina sobre Cosmópolis para que todos possam ouvir a nota de falecimento, divulgada nos históricos alto-falantes da Igreja Matriz Santa Gertrudes.
Todo cosmopolense já se perguntou um dia: “Quem é a voz que fala a nota de falecimento?”. A resposta é que muitas vozes já passaram por ali. Cida, Tininha, Mariazinha, Maria Gil, Solange, Laura... Muitas pessoas já usaram o microfone de anúncio da nota de falecimento da Igreja, durante os mais de 60 anos que a paróquia oferece o serviço gratuito a toda a população.
Atualmente, duas pessoas são responsáveis pelo anúncio de falecimento da igreja: Neusa Maria Martins Garcia e Vitor Krebsky Ossuna. Neusa, com 69 anos de idade, e também de igreja, já ajudou muito em toda a comunidade.
“Eu morava na Usina Ester e pegava o ônibus para poder frequentar a paróquia. Sempre estive envolvida nas atividades da igreja. Quando a Igreja São Paulo Apóstolo foi construída, também ajudei bastante por lá, eu levava café para as pessoas que estavam erguendo a igreja”, conta Neusa.
Há 15 anos, Neusa é Ministra da Eucaristia, foi presidente por seis anos da Pastoral do Apostolado da Oração, passou pela Pastoral Familiar, pela Pastoral do Dízimo e muitas outras.
“Há mais de 20 anos cuido de todas as roupas da igreja, do padre, do altar, dos arranjos da igreja e também sou comentarista de uma missa de quinta-feira todos os meses”, diz. E acrescentou: “Eu participo de todas as pastorais nos bastidores, sou bem voluntária, estou em todas e não sou nada”, brinca, em meio aos risos, Neusa.
Para Neusa, a oportunidade de fazer os anúncios surgiu quando ela começou a aprender a cuidar do som durante as missas. Na época, o conhecido seu Armando Regasini, também ensinou a voluntária como fazer as notas.
“Tudo começou quando eu cobri as férias do sacristão, o seu Armando. A música que toca na nota, antes, era em uma vitrola, que ainda está dentro do som da igreja. Aprendi a fazer as notas para poder substituir a Laura quando fosse necessário, já que eu morava perto a igreja”, recorda-se Neusa.
Muitas vezes, Laura, a antiga secretária, ficava sozinha na secretaria e não tinha como fazer a nota, então, ela chamava Neusa para dar um auxílio. “Aqui da igreja acho que não tem nenhum pedacinho que eu não sei ou que eu não participei”, lembra, com alegria, Neusa.
A voz masculina, que muitas vezes é ouvida nos anúncios, pertence a Vitor, de 19 anos. Assim como Neusa, Vitor também é engajado na igreja. Membro da Igreja São Benedito, Vitor é secretário da Santa Gertrudes há oito meses. “Eu sou ativo na comunidade aqui da Santa Gertrudes, como eu sou secretário, tenho que saber tudo que está acontecendo. Mas, na missa, participo mais na São Benedito, onde meus pais frequentam.” Vitor também participa da liturgia da Santa Gertrudes, auxiliando como comentarista, além de ajudar na Pastoral da Comunicação.
Os bastidores da nota
Todas as pessoas podem solicitar a nota de falecimento, basta passar os dados principais do falecido na secretaria da igreja ou pelo telefone 3872-1244. O serviço é totalmente gratuito.
Após o recolhimento dos dados, Neusa ou Vitor caminham pela centenária Santa Gertrudes até chegar à mesa de som, que fica ao lado do altar, próximo à imagem da padroeira do município.
Antes de começar, o anunciante pega um antigo rádio, já com o CD preparado, coloca a faixa três e, com o auxílio de um microfone, a música mais conhecida entre os cosmopolenses começa a tocar. Assim, a nota de falecimento ecoa entre os quatro cantos da cidade pelos oito alto-falantes da torre da Igreja Matriz.
Seja em LP, rádio ou pendrive, a nota de falecimento da igreja faz parte – e sempre fará – da história dos cosmopolenses.
A história do serviço de alto-falantes
Muito antes das notas de falecimento ser divulgadas na Igreja Matriz, o cosmopolense José Magossi divulgava as notas no serviço de alto-falantes “A Voz de Cosmópolis”, criado no final da década de 1940, na Praça do Coreto, popularmente conhecida na época como Jardim.
Localizados no telhado do coreto, os alto-falantes funcionavam como uma emissora rádio. Tocava músicas e os munícipes muitas vezes iam até lá para pedir uma canção especial. Os comerciantes também não ficavam de fora e anunciavam nos alto-falantes. Precederam Magossi no serviço ao município os saudosos cosmopolenses: Modestina, Alibabá e Audânio.
“Com a vinda do Monsenhor João Batista Maria Rigotti para os comandos da Paróquia de Santa Gertrudes, em 1960, o sacerdote prosseguiu o andamento da construção da Nova Matriz. E, em 1963, quando oficialmente foi terminada a torre, foram implantados os alto-falantes que, entre trocas e consertos, ainda permanecem alguns dos originais da época até hoje”, explica Adriano da Rocha, Presidente do Conselho de Cultura e Conselheiro de Patrimônio Histórico Cultural Material e Imaterial de Cosmópolis.
A partir de então, as notas de falecimentos passaram a ser anunciadas na Igreja Matriz. “A Voz de Cosmópolis” esteve presente no Coreto até o início da década de 1980. “Como a antiga Igreja Matriz era pequena, eram feitas missas campais na Praça, usando os alto-falantes do Coreto”, comenta Rocha.
Os serviços de nota de falecimento também eram realizados na Igreja de Santo Antônio, no bairro Vila Nova e na Igreja Assembleia de Deus, na Rua Moacir do Amaral, ambas entre as décadas de 1970 e 1980.

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