Dia do eterno amor e da saudade


 Com 120 anos, o Cemitério da Saudade perpetua o passado e o presente de Cosmópolis 

 

Uma data exclusivamente Católica, comemorada há quase dois mil anos em memória aos fiéis falecidos, data que traz na sua simbologia a celebração da vida eterna dos finados junto a Deus.
O Dia de Finados, celebrado no dia 2 de novembro, também conhecido em algumas regiões do Brasil, principalmente no interior paulista, como o ‘Dia do Eterno Amor’, traz em seu significado eucarístico que quando amamos uma pessoa ela nunca morre, permanecendo sempre eterna em nossas vidas, viva em nossos corações.
Segundo a fé Católica, a definição da data é o amor pela vida, celebrando no dia de finados que a vida é eterna e nunca termina quando se existe fé em Deus; sendo que o principal fundamento da vida cristã é viver eternamente em comunhão com o Criador, seja na vida ou na morte.
A maioria das igrejas protestantes não guarda a data, afirmando que o preceito de rezar aos falecidos é desprovido de contexto bíblico. A única citação à celebração está em II Macabeus 12,43-46, porém este livro não é reconhecido pelos protestantes e, por este motivo, a data não tem valor litúrgico nas igrejas evangélicas.

O Cemitério Alemão
Em Cosmópolis, a data somente foi celebrada no atual Cemitério Municipal, no início do século passado. O cemitério edificado em 1896 foi criado por colonos protestantes, imigrantes suíços e alemães, na maioria membros da Igreja Luterana, que desconhece o dia 2 de novembro na sua liturgia.
Na época as comunidades luteranas da região, Cosmópolis, Limeira e Campinas, dedicavam aos mortos o último domingo do ano eclesiástico, o Totensonntag, ou o Domingo da Eternidade (Ewigkeitssonntag).
O cemitério, desde a idealização do Núcleo Colonial Campos Salles, já fazia parte do projeto criado pela Câmara Municipal de Campinas e o Estado, para vinda dos imigrantes germânicos.
Inicialmente, nesse cemitério, somente eram sepultados membros da comunidade Luterana, fiéis da doutrina protestante. O local seguiu o mesmo projeto do cemitério do Bairro dos Pires, criado em 1864 por imigrantes alemães e suíços da comunidade Luterana da Fazenda Ibicaba, em Limeira. A comunidade dos Pires é considerada uma das primeiras comunidades germânicas do Brasil, criada em 1847 pelo Senador Nicolau Pereira de Campos Vergueiro.
Acompanhando essa comunidade, formada por cerca de 60 colônias, no mesmo período, foi criado em terras cosmopolenses a comunidade alemã do Serra Velha.

Abertura para todas as crenças
O então intendente de Campinas, o ex-presidente Campos Salles, em visita aos núcleos coloniais de Cosmópolis em 1897, oficializou o cemitério Luterano como público, destinando 6 mil metros quadrados para os sepultamentos dos mortos, fossem católicos ou protestantes.
As mudanças se tornaram necessárias devido as constantes epidemias de febre amarela em 1889 e 1896, que dizimaram Campinas e toda região. A epidemia de febre amarela forçou os governantes a mudarem as normas de instalação de cemitérios em todo Brasil, tornando os locais públicos e não mais exclusivos de determinadas religiões.
A adequação foi uma das exigências feita pelo epidemiologista Adolfo Lutz, quando em visita a Cosmópolis e outros distritos campineiros. O cientista percebeu que era de extrema necessidade no combate da doença sepultar as vítimas rapidamente, evitando novos contágios.
O cemitério cosmopolense começou a receber vítimas da febre amarela vindas das vilas de José Paulino (Paulínia) e Arthur Nogueira. Até então, os cemitérios eram locais exclusivamente religiosos, divididos em necrópoles católicas e protestantes.

Outros cemitérios
Os paulistas e descendentes dos primeiros moradores das terras cosmopolenses, antes da imigração e da criação dos núcleos coloniais, eram sepultados em Limeira no cemitério municipal da cidade.
A proximidade de Limeira com as regiões do Novo Campinas, Pinheirinho, entre outros bairros rurais considerados marcos da povoação de Cosmópolis, levava os moradores a fazer os sepultamentos no cemitério do município.
Porém, muito antigamente, nos tempos da passagem dos Bandeirantes, tropeiros, mercadores de escravos, e no início do desbravamento das terras cosmopolenses, existia um cemitério na região onde hoje está edificado o Cristo Redentor na Rua Santa Cruz, popular Morro do Cristo.
Nessa região até a década de 40, estavam enterrados cerca de 15 pessoas, possivelmente caboclos e descendentes de Bandeirantes. Os sepulcros eram simples covas, demarcadas com cruzes feitas de madeira (possivelmente Jacarandá Paulista e Peroba), cobertas cada sepultura com pedras (costume bandeirante).
Em 1950, o local foi utilizado para o plantio de cana de açúcar, transformando o antigo cemitério em canavial. O restos mortais foram encaminhados para o então cemitério municipal, onde foram sepultados em uma cova sem identificação.
Mais dois cemitérios existiam nesse período, um na região do Bairro do Coqueiro (ainda existente), e um outro de escravos no antigo Morro do Carão (hoje bairro do Cidade Alta). Nunca existiu um cemitério ou sepultamentos na atual região central, como é citado erroneamente na Rua Eurides de Godoy, também como nunca existiu em Cosmópolis ou outras cidades do interior paulista, surtos de febre bubônica.
As vítimas sepultadas em uma aérea reservada do Cemitério Municipal, foram vítimas de febre amarela e febre tifoide, como garantem os registros da Secretária Estadual de Saúde do Estado, assinados pelo médico Adolfo Lutz.

Um cemitério livre e regional
Até o início do século passado eram raras as exceções de imigrantes de crença católica, ou paulistas (famílias que residiam na região desde os tempos dos Bandeirantes) enterrados no antigo cemitério alemão.
Os primeiros registros de católicos a serem sepultados no Cemitério Municipal foram de imigrantes italianos, isso em 1900, uma mulher da família Capraro e uma criança da família Tavano.
Outros registros afirmam que foi Araci Silva, a primeira pessoa a ser sepultada no cemitério. Em sua homenagem a avenida onde é localizado o Cemitério Municipal, recebe seu nome. Até o início da década de 10, o cemitério cosmopolense recebia mortos das cidades de Paulínia e Artur Nogueira (Engenheiro Coelho, Holambra), até então as pequenas vilas campineiras não possuíam cemitérios públicos. Com isso, muitas famílias perpetuando os antigos sepulcros, continuaram a fazer sepultamentos em Cosmópolis, mesmo depois da construção dos cemitérios locais.
Atualmente o Cemitério Municipal da Saudade ultrapassa 20 mil pessoas sepultadas, em cerca de 45 mil metros quadrados de extensão.

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