Triste fim de uma história cosmopolense


 Casa era a última edificação de um complexo que chegou a ter 25 colônias

 

Restos de enormes tijolos, a maioria moldados com as iniciais U.E, vigas de peroba rosa utilizadas para o madeiramento, muitos cacos de telhas. Até o início da semana eram estes os resquícios da última casa de colono demolida na Usina Ester.
Equipes da empresa açucareira realizaram na segunda-feira (31/10) o restante dos trabalhos de limpeza no local, removendo o restante dos escombros e materiais não aproveitados para a possível reutilização.
A demolição da última edificação pertencente ao centenário grupo de casas das Colônias do Quebra Canela e Bota Fogo, começou no mês de setembro, depois de meses de negociações da empresa com a família que residia na casa há anos.
Desde a instalação da Usina em 1898, as casas colônias eram cedidas aos funcionários que prestavam serviços no complexo açucareiro, o qual inicialmente abrangia do corte de cana a criação de gado, chegando a possuir mais de dois mil empregados e 25 colônias.
Entre as formalidades legais do acordo estabelecido entre a empresa e a família, a qual morava em sistema de comodato (as casas eram cedidas aos funcionários para uso exclusivamente familiar, enquanto o mesmo prestava serviços à empresa), estavam à venda dos materiais aproveitados na demolição, como tijolos, telhas, portas, batentes, janelas, entre outros.
Na derradeira casa, então localizada próxima a represa do Rio Pirapitingui, chegou a funcionar um bar, o qual servia bebidas e comidas típicas nordestinas, revendidas aos frequentadores do Paredão.
Segundo Heitor Gomes Silvestrine, 76, pedreiro aposentado que adquiriu parte dos materiais, quase 100% da casa foi aproveitado. “O estilo da construção, tijolos aparentes, assim como o tamanho das peças, torna-se fácil o desmanche para o aproveitamento em novas construções”, afirma Silvestrine.
O aposentado que reside em Paulínia chegou a construir uma edícula nos fundos da casa, utilizando materiais reaproveitados. “Todos ficam admirados como fica bonito. Hoje em tempos de crise tudo é aproveitado, e nesse caso é preservado”, declara o aposentado.
Maurino Rufino, 51, servidor público aposentado, trabalhou nos serviços de demolição de várias casas colônias da Usina. Segundo Rufino, cada casa rendia até quatro caçambas de entulho, cerca de 5 a 6 mil tijolos. “As casas eram grandes, chegava a morar uma família de até 10 pessoas. Os cômodos eram imensos, quartos espaçosos, cozinha e sala grande mesmo. Só não tinha banheiro na casa, no quintal, também imenso, era construída uma casinha usada como banheiro”, relata Rufino que participou da demolição de várias casas.

118 anos de história
As casas das colônias pertencentes à Fazenda Usina Ester, acompanhavam o mesmo projeto de construção do complexo industrial da Usina, criado em 1898 pelo engenheiro e arquiteto Ramos de Azevedo, a pedido do então diretor da empresa, Major Arthur Nogueira.
As edificações seguiam como padrão a construção em tijolos aparentes, uma tendência na época, estilo criado na Inglaterra com a "Revolução Industrial", iniciada no começo do século 19 na Europa.
Os tijolos aparentes traziam não apenas uma nova tendência arquitetônica, mas também, a economia nos acabamentos na aérea externa das construções. Os tijolos eram produzidos em uma olaria idealizada para suprir o constante uso nas obras de construção da Usina, como o extinto sobrado (Palacete Irmãos Nogueira, demolido em 2012), núcleos de colônias, e até da primeira Igreja Matriz de Santa Gertrudes.
Seguindo o novo plano administrativo da empresa, elaborado no início dos anos 2000, onde foi estabelecido a ampliação da área de cultivo da cana de açúcar, as colônias começaram a ser demolidas por regiões.
As casas coloniais do Saltinho, Bate pé, Quebra Canela e Bota Fogo, eram as últimas edificações existentes de uma grupo de colônias formado por 25 núcleos.
O processo final de demolições começou em 2012, sendo totalmente concluído em 2014, restando então somente a última casa, próxima ao Paredão.

Adicionar comentário


Código de segurança
Atualizar

Variedades

Oportunidades